Eu sempre digo que é perfeitamente possível não gostar de um livro, mas reconhecer - e até apreciar - seu valor literário. Não acho que seja contraditório, e se for, Walt Whitman já disse que nós humanos contemos multitudes, e na minha opinião, os livros também. No caso de Guerra e Paz essa distinção se torna mais complicada, pois, gosto mais do livro pelo o que ele poderia ter sido do que pelo o que ele realmente é. Seria calúnia eu dizer que Guerra e Paz é um livro ruim, porque não é, mas é uma obra com um grande problema: Tolstói escreveu dois livros em um - um é a narrativa da vida de Pierre, Natasha, Andrei e seus agregados, o outro é o diário de desabafos e teorias da conspiração que o Autor deveria ter entregado à sua terapeuta.
A esse ponto da minha carreira de analista literária amadora, eu sinto que conheço Tolstói bem o suficiente para expor a minha interpretação sobre sua obra publicamente, principalmente por causa do turbilhão mental que este homem me fez passar. Explico: tanto em Anna Karenina quanto em Guerra e Paz, eu fui convencida bem até demais da veracidade da narrativa e dos personagens, e eu penso neles e no que aconteceu com a mesma intensidade que penso sobre eventos e pessoas reais, portanto, minha frustração com o livro está em outro patamar.
Sendo assim, minhas “críticas” não partem de uma soberba do tipo “sou mais inteligente porque aponto defeitos numa das maiores obras da cultura ocidental”, mas sim de um lugar de carinho e admiração, da mesma forma que quando criticamos um familiar não significa que o amamos menos, na verdade, talvez a crítica venha justamente porque o amamos tanto. Se eu não amasse Guerra e Paz eu não teria me dado o trabalho de escrever esse texto. Bem, gosto de dizer que Tolstói escreveu as grandes obras que escreveu apesar de si mesmo, pois seu lado racional e moralista não foi capaz de sufocar sua genialidade.
Um livro grande como Guerra e Paz requer uma análise à altura de sua amplitude, por isso, não desistam de mim e venham ver o magnífico e aterrorizante mundo de Tolstói.
O Grande Não-Romance de Tolstói: dois livros em um?
Para os que nunca leram, Guerra e Paz se passa na época da guerra entre a Rússia e a França de Napoleão (entre 1805 e 1815 especificamente) e foca na vida das famílias Rostov, Bolkonsky e Bezukhov que se interligam durante esses 10 anos. Tolstói descreveu sua obra como um "não-romance", e viu a ficção russa melhor representada por seus frutos desajustados, como Almas Mortas de Gógol e o livro deveras autobiográfico de Dostoiévski, Memórias da Casa dos Mortos - obras não convencionais que não eram nada parecidas com o que ele chamou de "formas europeias".
Este enorme não-romance, dividido em 4 livros com 5 volumes cada, foi escrito entre 1863 e 1868 inspirado nas experiências traumáticas que o autor teve lutando na Guerra da Crimeia. A princípio ele pretendia escrever sobre os conflitos russos de 1856, mas percebeu que para fazer isso ele precisava voltar à 1825, quando os rebeldes de classe alta conhecidos como Dezembristas foram executados e exilados. Mas 1825 não podia ser recordado, Tolstói explicou em carta, sem contar do ano de 1812 quando Napoleão invadiu a Rússia e ocupou Moscou por quatro semanas. E 1812 precisaria de 1805 como preparação, que é quando o romance abre. E toda essa confusão de não saber como e onde começar indica que ele também não sabia como iria terminar.
A única outra obra de Tolstói que li foi Anna Karenina, e em ambos livros senti que ele é um narrador intrusivo, intervindo para explicar as coisas, dizendo-nos o que pensar, escrevendo ensaios e sermões etc. Tem muito disso em AK, mas lá o autor entrelaça suavemente suas teses com seus personagens, enquanto que em G&P a separação entre esses elementos é abrupta, as vezes com capítulos inteiros dedicados às divagações de Tolstói em meio a trama: história – tese – história. "Il se répète! Et il philosophise!!" Comentou um Flaubert chocado com esta presença didática e filosófica.
Tolstói como pessoa era cheio de ambivalências: era muito religioso, mas foi excomungado da Igreja Ortodoxa Russa; foi casado durante décadas com a mesma mulher (a coitada da Sofia Tolstaia), com ela teve 13 filhos, mas tinha uma visão um tanto quanto catastrófica do casamento (é só ler Felicidade Conjugal ou Sonata Kreutzer para entender); escreveu obras de arte esplêndidas mas repudiava trabalhos considerados canônicos, e em seu ensaio O Que é Arte? propôs uma revolução do mundo artístico em bases cristãs.
Seria inevitável, então, que tal ambivalência se transmitisse para sua obra, e o autor intercala romance com sermões, consolidando a dualidade de G&P. Exemplo disso é que três volumes do Livro III e dois volumes do Livro IV começam com discursos extensos sobre questões como causalidade histórica e a natureza do poder e do governo, em oposição aos volumes I e II que possuem menos discursos e estes estão mais mesclados na narrativa (não é à toa que, avaliando os volumes separadamente, eu dei 5 estrelas pros dois primeiros e 3 pros dois últimos). Tenho a impressão que Tolstói não confiava na nossa capacidade de captar a mensagem, então perto do fim ele foi aumentando a dose filosófica.
Um possível motivo para Tolstói ter construído o livro dessa forma, é que a Rússia do séc. XIX estava a mercê de uma censura pesada, não havia nem partidos políticos, e até a libertação dos servos em 1861 o esquema socioeconômico era análogo ao feudalismo. Como não havia um espaço de tribuna para que a sociedade civil pudesse participar das discussões políticas, filosóficas, econômicas etc., esses assuntos encontraram refúgio na literatura, como em Almas Mortas do Gógol, considerado o romance inaugural da literatura russa, cujo tema central é a servidão.
Diante desse cenário, não surpreende que os romances russos sejam considerados “pesados”, afinal, não tinha twitter nem facebook, nem ao menos um jornalismo que permitisse comentários sociais (não estou considerando os folhetins clandestinos, claro), e por isso, Tolstói fez parte de seu livro de palanque. Li AK em 2021 e lá eu já tinha percebido isso. Tem uma cena inesquecível onde Lióvin vai junto com seus mujiques (servos) arar a terra, e enquanto faz o trabalho braçal, ele medita longamente sobre teorias agro econômicas, que até enriquecem o personagem, mas deveriam ter sido destinadas a uma cartilha sobre o assunto, e não inserida furtivamente num romance. Assim, fora escrever livros, a crítica literária terminava sendo o único meio para debater as questões socialmente relevantes na Rússia.
Vários livros daquela época, então, possuem um ethos, uma agenda, se opondo à arte pela arte, à literatura como entretenimento. Por isso, o próprio Tolstói diz que Guerra e Paz não pode ser compreendido pelas categorias criadas na Europa ocidental. Apesar do autor advogar pela singularidade de sua obra, ela possui diversos elementos que se assemelham a outros gêneros e artifícios literários (afinal, nada se perde, nada se cria, tudo se transforma), dois deles são o teatro realista – que também possuía um ethos – e o épico homérico, os quais irei explorar mais adiante.
Contextos à parte, como disse Paulo Nogueira, meu professor de escrita criativa, na narrativa não estamos escrevendo tratados, mas sim histórias, e talvez Tolstói tivesse se beneficiado desta aula.
Em Defesa de Andrey
Tolstói não é nem um pouco sútil quanto a sua predileção por determinados personagens. É engraçado porque os personagens que ele quer que você torça (pois estão dentro do conceito de moralidade dele) são os mais insuportáveis, enquanto que os personagens que o autor julga amorais e indignos são os melhores e mais interessantes. Como eu disse, muitas vezes parece que Tolstói escreve apesar de si mesmo. Em G&P fica muito claro o quanto ele quer que o leitor torça por Pierre, apesar de ser o Príncipe Andrey a força gravitacional que nos puxa para dentro da história, e no fim, o autor o sacrifica para que Pierre possa se desenvolver.
Por mais que Tolstói faça questão de se colocar à parte dentre seus companheiros literários, ele deu crédito ao arquétipo homérico que conheceu no início de sua carreira. O Autor leu a Ilíada pela primeira vez em 1857 e ficou muito impressionado, e pode-se dizer que isso influenciou seu conceito de heroísmo como influenciou toda a cultura ocidental.
Nas primeiras versões de G&P, ainda com o título “1805”, Andrey deveria ter morrido na batalha de Austerlitz, pois, tal qual Aquiles, Tolstói o projetou para ser um herói de vida curta morrendo gloriosamente, e como no exemplo de Aquiles, a morte de Andrey é pressagiada após uma batalha embora o rumor seja falso. Após este episódio, Andrey é salvo pelo autor para se tornar um herói cristão.
Como no caso do arquétipo homérico, o ideal heroico do príncipe Andrey é, inicialmente, a glória pessoal. Por conseguinte, o objetivo do herói épico é sua imortalidade, o que é um paradoxo pois, para ser digno do título o indivíduo precisa de uma morte gloriosa e assim alcançar um legado imortal. Na véspera da batalha de Austerlitz Andrey diz: “adorados e preciosos como muitas pessoas são para mim: pai, irmã, esposa – e ainda assim, terrível e antinatural como parece, eu desistiria de todos eles por um momento de glória”.
Entretanto, para Andrey esse destino do herói será metafórico: em Austerlitz ele sofre uma morte simbólica, onde ele deixa para trás todas as ilusões de vitória pessoal ao sofrer uma epifania que dilacera sua visão de mundo. Andrey percebe o caos e a futilidade da guerra, e após ser mandado para casa com honras, abdica da carreira militar (por enquanto).
Assim, após Austerlitz, o Príncipe passa por uma grande e profunda mudança de caráter e de visão de mundo, somado posteriormente ao falecimento de sua esposa ao dar à luz a seu filho, e essa sucessão de começos e finais em tão pouco tempo reconfiguram suas crenças. A partir desse novo contexto é que Andrey vai embarcar em uma nova jornada, onde, através de Natasha e da segunda batalha em Borodino, ele vai ter uma epifania sobre o amor divino que permitirá que ele se liberte da vida terrena em paz, alcançando a imortalidade através do amor e não da glória, e assim morrendo como um verdadeiro herói cristão - não mais um mito pagão como Aquiles.
A morte de Andrey me fez chorar como nunca chorei antes por causa de um livro, mas o frustrante foi perceber que Tolstói fez isso para possibilitar o romance entre Natasha e Pierre. Particularmente achei a execução mesquinha, e seria mais digno para Andrey se ele tivesse morrido mesmo em Austerlitz, numa das cenas mais bonitas do livro onde o Príncipe caído no campo de batalha contempla o “amplo céu azul”.
Tolstói, Schopenhauer, e o Destino
O epilogo de G&P é testemunha do grande interesse de Tolstói em filosofia da história. Nele, o autor explora a natureza da ação humana: se ela é uma expressão da vontade livre (tal qual a máxima de Sartre - somos condenados a ser livres) ou se ela é sempre um ato de necessidade fruto do contexto em que o indivíduo estava inserido - eu particularmente acredito num meio termo.
Sabemos por registros históricos que Tolstói estava imerso nos trabalhos de Schopenhauer enquanto escrevia G&P: em 30 de agosto de 1869 Tolstói escreveu uma carta na qual dizia que “Schopenhauer era um dos maiores gênios da humanidade”. Portanto, pode-se afirmar que as visões de Schopenhauer sobre liberdade, vontade, e a lei da necessidade expostas no célebre ensaio “O Livre Arbítrio” influenciaram as teorias de Tolstói.
O autor diz que não é possível, na vida e na guerra, tomar decisões calculadas e esperar consequências racionais, pois existem uma infinidade de elementos subjetivos no microcosmo que influenciam o resultado no macrocosmo - como a disposição de um soldado no dia da batalha, o clima, entre diversas interferências imprevisíveis. Sendo assim, o máximo que se pode fazer é tentar observar a tendência do movimento do pêndulo histórico se seu objetivo é formular uma estratégia, o que requer uma clareza mental extraordinária pois, sabemos que é muito difícil apreender o contexto histórico enquanto o vivencia.
Apesar de, paradoxalmente, pregar pela imprevisibilidade e predestinação dos fatos, no livro, o general Kutúzov teve o seguinte insight: diante do inverno que se aproximava e do incêndio parcialmente planejado de Moscou, a melhor decisão dos russos seria simplesmente bater em retirada – vulgo fazer nada – e “deixar rolar”, pois as condições em que os franceses estavam inseridos poderia ser (e foi) a derrota deles. Essa percepção de Kutúzov da tendência da vitória seria exemplo de sua sabedoria ao “deixar estar”. O general chega ao ponto de dormir em conselhos de guerra sob o argumento que não adianta estratégias nem planos, importando apenas quem se virar melhor na hora H no campo de batalha, e isso seria impossível de prever. Ou seja, literalmente, o que tiver de ser será e sem chororô.
A percepção histórico-filosófica de Tolstói não é de todo equivocada, como quando ele demonstra que o sistema de poder é como um cone, e os privilegiados no topo são pintados por percepções arbitrárias ora como heróis ora como vilões, ora como gênios e ora como imbecis. Quanto mais alto na hierarquia o indivíduo está menos livre ele é, e vice-versa.
No fim ele propõe que a consciência é a grande medida que deve guiar o homem, pois se a razão exprime as leis da necessidade a consciência exprime as leis da liberdade, havendo um equilíbrio entre liberdade e necessidade. Em parte, eu concordo. Porém, aponto o problema mais óbvio: tem coisa mais subjetiva que a consciência? Mas aí é que tá, Tolstói era viciado em generalizar, e esta “consciência” a qual ele se refere é a cristã, vista por ele como a versão inata de bondade humana, basta o indivíduo descobri-la dentro de si, através de uma série de medidas idealizadas por ele cujos detalhes não vou comentar. Em resumo, a moral cristã seria a bússola universal da tal consciência. O autor não chega a nomear Deus como construtor dos eventos, mas ele usa o termo “providência” para ilustrar o incompreensível quando olhamos para o passado e perguntamos “porque isso aconteceu assim? ”
Para Tolstói, não há como compreender a história em uma cadeia sequencial, pois todo mundo acaba fazendo uma mistura de “o que quer” com “o que deu”, e por trás destas ações está a incompreensível predestinação elaborada pela “providência”. Confuso, não é? Ele termina por dizer que, na verdade, a história verdadeira seria um caos de vontades individuais, e quando o historiador tenta explicar, ele o faz de forma arbitrária buscando uma explicação lógica e consequencial que simplesmente não existe, ou não é possível compreender.
O Pior Personagem do Universo Tolstoiniano
No centro da G&P está o conceito da peregrinação espiritual, da jornada em direção à iluminação e à verdade - tema central de todo o trabalho de vida de Tolstói. Cada um dos cinco protagonistas - Andrey, Pierre, Nikolai, Natasha e Marya - está em uma busca moral, empreendida consciente ou inconscientemente, que o leva a alguma forma de redenção.
A trama é construída entrelaçando os núcleos de cada protagonista, influenciando uns aos outros de forma decisiva. O desenvolvimento de determinado personagem serve, então, como um comentário sobre o de todos os outros. A trajetória de cada protagonista mira um destino definido, por mais que as vezes pareça que Tolstói não sabia como ir de A pra B, pelo menos ele sabia que o destino era B. Assim, a trajetória de um se une à de outros objetivando a evolução espiritual e moral de todos.
Acontece que algumas dessas trajetórias e entrelaces são mais bem planejadas que outras, e no caso de Pierre, sua peregrinação é tão mecânica que me permitiu observar um padrão, um “plot device” usado por Tolstói: o raisonneur.
Toda vez que acontece alguma frustração com Pierre (normalmente causado por ele mesmo) ele perde a fé em deus e na humanidade, e adota um estilo de vida frívolo, ou mesmo depressivo. Até que surge um encontro aleatório com um homem misterioso que vai dar uma lição de moral por páginas e páginas, até que Pierre sai transformado dessa interação e resolver fazer algo de útil com sua vida. Isso acontece pelo menos três vezes. É assim que Pierre entra na maçonaria, resolve reformar a vida de seus servos (pra pior), quase vai à falência, sai para “lutar” na guerra, e por fim decide que cabe a ele matar Napoleão. Tudo isso da forma mais patética e ridícula possível. Esses estranhos misteriosos impulsionam a peregrinação espiritual de Pierre do existencialismo ao cristianismo patriótico, e, empregando a teoria teatral, podemos classifica-los como raisonneur.
Mas o que é raisonneur? No teatro realista francês do séc. XIX, se uma declaração de um personagem na peça é tomada como tema, é porque essa declaração resume a questão do drama, e tal personagem age como porta-voz das ideias do autor e da moral da história. Na “peça bem-feita” do século XIX (pièce bien-faite), geralmente havia um personagem que falava em nome do dramaturgo, chamado de raisonneur (literalmente, o raciocinador).
O mecanismo não morreu com a pièce bien-faite, e os raisonneurs em várias formas ainda são encontrados em peças e filmes. Muitas vezes eles são coadjuvantes e geralmente a ação para enquanto o raisonneur apresenta a "mensagem" – exatamente como acontece em G&P, quando a ação no percurso de Pierre é suspensa para que ele (nós) receba uma lição. Este dispositivo é considerado artificial demais para fazer um drama verdadeiramente excelente, pois alivia o autor da tarefa de fazer de seu ponto de vista ou ideia uma parte da essência da peça em si. Tolstói era um autodidata e leu muito, principalmente os franceses, então não seria absurdo supor que ele de fato se inspirou no raisonneur.
Por conta disso, Pierre se tornou o personagem mais insuportável de acompanhar, pois sua narrativa contém altos e baixos diametricamente iguais, sacrificando a fluidez e naturalidade da história. Sem falar na injustiça que os personagens mais interessantes do núcleo de Pierre sofreram, quais sejam, sua esposa Heléne e a família Kuragin, para proporcionar a jornada espiritual patética de um homem sem um pingo de fibra moral e senso de identidade próprio. Mas isso é assunto para um texto separado.
Conclusão
Esse livro me ensinou paciência como nada nem ninguém seria capaz de ensinar. Eu tenho sentimentos conflitantes por ele, justamente porque estamos diante de dois livros: um eu não gostei e o outro amei. Adorei o livro que retrata os sentimentos de Andrey, a sensacional batalha de Austerlitz, o baile em que o Príncipe Rostov dança o Daniel Cooper, os salões de Anna Pavlovna, Nikolai e Sonya sendo crianças de novo brincando de fantasia na neve.... Mas dispenso o tratado determinista que quer me convencer a todo custo que Napoleão não era um gênio, que me dá sermões cristãos, que descreve minunciosamente como Pierre - o insuportável - acaba com a vida dos próprios servos por pura ignorância somada a teorias maçônicas.
Guerra e Paz começa incrivelmente bem para terminar de forma decepcionante. Dividido em 4 livros, os dois primeiros são impecáveis e os dois últimos são difíceis de engolir, a sensação que tenho é que Tolstói começou uma com uma proposta e se perdeu no caminho em meio a suas teses.
Como disse no início, fora essa obra monumental que discutimos só li Anna Karenina, um dos meus livros favoritos, e tenho sim vontade de ler mais de Tolstói. Talvez não Ressurreição o qual, de acordo com relatos pela internet, é um grande tratado sobre os problemas jurídicos da Rússia da época – dispenso. Tenho muita vontade de ler suas novelas, principalmente A Morte de Ivan Ilyich e Khadji-Murát, este último um favorito de Harold Bloom.
Tolstói é um gênio sem precedentes, isso é inegável. Os bons momentos que ele me entregou foram superiores a livros inteiros, eu só queria que o autor tivesse feito uma edição mais minuciosa. Este definitivamente não é um livro para todo mundo, mas não me arrependo da experiência de leitura, e provavelmente eu voltarei para reler meus capítulos favoritos. As multitudes deste livro inevitavelmente causam uma ambivalência de sentimentos, mas a minha métrica artística diz que uma obra de arte de sucesso é aquela que causa qualquer coisa menos a apatia, nesse caso, considero Guerra e Paz um sucesso estrondoso pra mim.
Excelente análise!
Não pretendo ler esse livro tão cedo porque não gostei de Anna Karenina, mas achei maravilhoso o conceito da porção do livro que ele deveria ter entregue à terapeuta. Partes de AK me deixaram com esse sentimento também!